Literatura

Afirmação e Esperança

Confesso que começar um texto com mais do mesmo é uma atitude não muito sensata, porém vem a calhar com a insensibilidade que, em mais ou menos, todos fomos acometidos nesses últimos anos no país. Talvez esse seja o motivo pelo qual o assunto é tão repetido; moções poéticas à parte, a questão me parece muito séria. Juro que não queria pronunciar o nome “do coisa ruim”, “capiroto”, “quebra sonhos”.  Gostaria de trazer um refresco salutar, algo que viesse pôr uma pedra em cima de tudo isso, algo revolucionário, ou quem sabe uma nova proposta de sistema. Esses dias estava ouvindo um desses canais da internet e me deparei com o  novo álbum de Marisa Monte (muito bem recebido pela crítica). Marisa, com sua doçura e encanto de sempre, uma verdadeira representante da brasilidade artística, falava com uma voz doce e em um tom mezzo-soprano: “Eu venho com esse álbum trazer uma afirmatividade”. Depois daquelas palavras ecoarem em meus ouvidos e mente, escutei a última música do álbum, com participação do Seu Jorge e Flor, e a música se chamava “Pra Melhorar”. Desse ocorrido fez-me lembrar um amigo que contava uma história já conhecida. Diz-se que certa vez, em uma rodovia, colocaram um outdoor que em letras simples dizia: “Não olhe para trás”. Obviamente que todos olhavam para trás. A questão não é que estamos negando a existência dele, mas sim, a de que ao falar sobre o que ele não faz, sobre o que não é, ressaltamos o aspecto da negatividade em detrimento da afirmação das coisas que queremos para o mundo. É como se estivéssemos caminhando por uma grande terra plana, enquanto observamos propaganda anti-vacinas e tratamento precoce à venda na esquina.

Pensando nisso, lembro-me de uma famosa citação sobre a esperança e o medo do gênio Spinoza: “A esperança é uma alegria instável, surgida da ideia de uma coisa futura ou passada, de cuja realização temos alguma dúvida. O medo é uma tristeza instável, surgida da ideia de uma coisa futura ou passada, de cuja realização temos alguma dúvida”. A respeito do seu parecer, Spinoza não era um simpatizante destes sentimentos. Sem dúvida, Spinoza tinha maior antipatia pelo medo, porém os dois sentimentos são imaginações perigosas que nos afastam da realidade, da natureza, de nossa essência. Mas como não vivemos sem nenhum dos dois, existe certo nível de esperança que podemos considerar benéfica, pois como dito a esperança nasce de uma alegria, isto é, de uma afirmatividade. Sem delongar-nos pelos labirintos espinosanos, para que o medo de algo não sobrevenha, deixo uma última citação icônica de Spinoza: “A esperança vence o medo”.

 

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