Literatura

As relações emocionais entre o espaço e o tempo

  O que distingue o fogo que aquece, daquele que queima, é a distância que tomamos dele. O mesmo acontece no campo das emoções; é a maneira com a qual nos posicionamos diante delas e a distância que às vezes precisamos colocar, ou, que a vida coloca, entre o nosso coração e o objeto desejado que definirá o aconchego ou a dor. Mas isso não significa que devemos fugir das nossas emoções, mas apenas que é sinal de prudência depositarmos energias na busca pela compreensão do que queremos, para que possamos evitar o risco de desejar a permanência das nuvens, por natureza, impermanentes e distantes.

  O problema é que a distância é mesmo relativa, e é justamente a medida da separação entre dois pontos. Por isso, não basta entendermos um pouquinho sobre psicologia, filosofia, neurociência e biologia, precisamos aprender também sobre a física e a geografia, porque a distância, eu já disse, é relativa. O distante é frequentemente muito próximo, e o que está ao alcance dos nossos dedos, às vezes, pode ser irremediavelmente longínquo, fato que por ser tão conhecido pela existência humana, já beira um clichê, mas eu não me oponho aos clichês, muitos deles são assim considerados por carregarem algo de coerente com a realidade que supostamente conhecemos.

  Uma outra grandeza primordial e intimamente conectada com a distância é o tempo. O tempo está, do meu ponto de vista, entre os problemas filosóficos mais inquietantes. Para o filósofo alemão Immanuel Kant, o tempo pode ser entendido como uma estrutura inerente à relação do sujeito com ele próprio e com o mundo. O filósofo chama de “uma forma a priori da sensibilidade”, assim como o espaço.

  Em suma, estamos dentro de um contexto em que temos que lidar com a distância, com o tempo, com as nossas emoções e com a irremediável impermanência das coisas. Você me entende agora quando eu digo que precisamos aprender um pouco mais sobre as mais diversas áreas do saber? Talvez assim, possamos lidar melhor com irredutíveis leis da existência, aceitando-as e jogando o melhor jogo possível com as cartas que nos foram dadas.

  Uma outra opção é sentar ao lado do rio e gritar amargos versos de descontentamento pela insistência do rio em mudar as águas de lugar, o que parece ser uma opção demasiado inútil, tendo em vista que essa é a constituição do rio e que ele não se importará com o seu desgosto.

  Pensava sobre isso enquanto colocava meus sapatos ontem.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Enter Captcha Here : *

Reload Image