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O curso da vida: Um poema de Hölderlin

A poesia de Friedrich Hölderlin (1770 – 1843) veio à tona apenas no início do século XX, mais precisamente em 1913, quando Norbert von Hellingrath reuniu e publicou sua lírica tardia numa primeira edição crítica. Por esse motivo, é relativamente recente o reconhecimento desse autor como um dos maiores poetas alemães de todos os tempos.

Entretanto, ainda que ignorada ao longo do século XIX, seu presença é muito marcante e propagou sua poesia nos meios intelectuais da Alemanha e de outros países da Europa, tornando-o célebre pelas elegias Pão e vinho (Brot und Wein) e  A festa da paz (Friedensfeier). Essa lírica tardia despertou o interesse sobretudo dos filósofos do início do século XX, que constituíram seus primeiros leitores críticos e intérpretes.

É bem possível que você nunca tenha ouvido falar Friedrich Hölderlin, mas ele estudou teologia no seminário luterano Stift, em Tübingen, onde Hegel e Friedrich Schelling foram seus amigos inseparáveis. Filósofos que marcaram a história da filosofia e principalmente o que se entende por idealismo alemão.

Mas, sem mais delongas… Vamos ao belo poema?

Curso da vida

Coisas maiores querias tu também, mas o amor
A todos vence, a dor curva ainda mais,
E não é em vão que o nosso círculo
Volta ao ponto donde veio!

Para cima ou para baixo! Não sopra em noite sagrada,
Onde a Natureza muda medita dias futuros,
Não domina no Orco mais torto
Um direito, uma justiça também?

Foi isso que aprendi. Pois nunca, como os mestres mortais,
Vós, ó celestiais, ó deuses que tudo mantendes,
Que eu saiba, nunca com cuidado
Me guiastes por caminho plano.

Tudo experimente o homem, dizem os deuses,
Que ele, alimentado com forte mantença, aprenda a ser grato por [tudo,
E compreenda a liberdade
De partir para onde queira.
*
Lebenslauf
Größers wolltest auch du, aber die Liebe zwingt
All uns nieder, das Leid beuget gewaltiger,
Doch es kehret umsonst nicht
Unser Bogen, woher er kommt.
Aufwärts oder hinab! herrschet in heilger Nacht,
Wo die stumme Natur werdende Tage sinnt,
Herrscht im schiefesten Orkus
Nicht ein Grades, ein Recht noch auch ?

Dies erfuhr ich. Denn nie, sterblichen Meistern gleich,
Habt ihr Himmlischen, ihr Alleserhaltenden,
Daß ich wüßte, mit Vorsicht
Mich des ebenen Pfades geführt.

Alles prüfe der Mensch, sagen die Himmlischen,
Daß er, kräftig genährt, danken für Alles lern,
Und verstehe die Freiheit,
Aufzubrechen, wohin er will.
– Friedrich Hölderlin. “Lebenslauf”/”Curso da vida”. in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

 

Um poema de Paul Celan dedicado a Friedrich Hölderlin

(Friedrich Hölderlin)

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