Na manhã que saúda minha alma, vendo o horizonte disperso que escorre pela pequena janela do banheiro, lhe convido para um café, e, com a certeza das incertezas, ponho meu calçado pesado.
Calçado e bebido o café, desço as escadas para o botequim, no térreo. Abro as portas para entrada do ar e do vento que balança a folha de jornal presa ao meio fio na calçada, e, que logo, pelo desígnio do vento, se vai em sobrevoo às ruas maledicentes.
O jornal que sobrevoa é tão inseguro quanto suas páginas de papel frágil, as quais delimitam a vida rotineira dos frágeis transeuntes. Todas as atrocidades são cometidas dentro de uma cidade que “mal sabe ler”.
Mesmo assim, o jornal sempre tem alguma alcunha nas exposições, que querem apontar a vida miserável de seus compradores. O propagandismo dos jornaleiros, as sutilezas nas descrições, o embaraço de “não saber ler”.
O jornal continua a sobrevoar a cidade em uma dança aérea sensual que parece dizer algo. Parece ser um espelho apontando para ela, mas um espelho turvo, e como todo espelho inverte a realidade que se reflete, o jornal que sobrevoa mostra aquilo que é instintivo e animalesco o suficiente para atrair compradores como um chamariz.
Dessa mesma forma, o espelho que inverte também sabe muito bem denunciar a cidade, pois o que está lá não deixa de ser o reflexo. Um comprador chega, pega um jornal e pede um café. Fecho a porta e retorno ao botequim.
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Co-criador da página do instagram @coco.absurdo. Amante dos livros, da escrita e da arte. Atualmente é formando em filosofia pela UFPel, tendo pesquisado filosofia política e do direito no autor Jürgen Habermas ao longo dos últimos anos. Considera-se, também, um simpatizante dos escritos Espinosanos e acredita que o amor à vida terrena é o mais sublime que há.