Pela janela
É possível notar
As faces do horror;
Os cantos dos corvos
E dos fantasmas
São altíssimos, uníssonos,
E são incessantes.
Pela janela
É possível notar
Os funerais solitários
Dos que são enterrados como indigente;
É possível notar
O peso do luto não sendo temporário.
Pela janela
É possível notar
O silêncio dos pássaros,
Os bosques repletos de cruzes,
Os dias cinzentos,
Tudo se tornando torpe,
Com aroma de desolação,
De morte e de enxofre;
Pela janela
É possível notar nas lápides
Que os motivos de morte
São as contradições da vida,
Que as culpas
Fazem estragos noite e dia,
Que a morte
É agora tão comum como tudo.
Pela janela
É possível notar
Os cemitérios ecoarem
Os silêncios dos esquecidos,
Os lamentos profundos,
As lágrimas despencarem,
O vazio exibido pelos jazigos;
É possível notar
As tristezas para sempre se silenciarem,
As injustas cruzadas dos esquecidos,
O luto se perpetuar.
Pela janela
É possível notar
O interior humano ruir
Em depressões sem cura,
É possível notar que a espécie
Inventora da ciência e da loucura
Observa a luz ir pelo horizonte
Para nunca mais voltar,
Observa os fardos de tudo
Não mais serem suportados;
Pela janela
É possível notar
O canto dos corvos lamentar
Cada nova cruz
Que surge.
Pela janela
É possível notar
A toxicidade ocultar a luz do dia,
É possível notar
Que o Sol morreu;
É possível notar
O risco que há
Até mesmo em respirar,
É possível notar
A chuva de cinzas
Que chove no inferno
Em sincronia com estes lamentos eternos
E com os sofrimentos modernos.
Pela janela
É possível notar
O vazio exibido pelos bosques,
Os oceanos de desespero
E os campos de morte;
Pela janela
É possível notar
O quão a vida é incerta
Na profundeza do inferno
Sem escapatória e sem alento
Das paisagens modernas.