Em tempos nos quais o materialismo é prevalecente, aqueles que dançam as músicas que não tocam no seu rádio e caminham calmamente por entre as ruas observando as antigas janelas… Estes olham para essas antigas janelas e visualizam muito mais do que meros pedaços de madeira envelhecidos pelo tempo.
São tempos difíceis para os sonhadores.
Não é raro sermos capazes de os identificar pela frequência com que assumem um estilo desinteressado para seus modos de vestir e existir. Entretanto, havia outro gênero deles. Os sonhadores estavam divididos em duas categorias semelhantes e distintas simultaneamente.
A segunda categoria é a dos sonhadores que embora pareçam dançar a música vigente, sintonizam-se em outra frequência, ainda que sem a busca pela imersão total no próprio idealismo existencial, já que conseguem manter o equilíbrio entre os dois mundos. Talvez porque consigam manter a essência de seus espíritos transcendentes viva mesmo que o contexto não favoreça, e não tenham o desejo do embate. São aqueles que buscam o sol pela sombra.
Algo como Nietzsche falou em sua obra A Gaia Ciência:
A Gaia Ciência
O primeiro grupo de sonhadores busca a dicotomia com o mundo e os interesses vigentes, nutrindo-se dela. Portanto, desinteressa-se por todas as coisas que tendem a interessar grupos maiores de pessoas, demonstrando nos menores detalhes seu distanciamento. O segundo grupo, desinteressa-se por essa demonstração, não busca o embate e, por ele, tem indiferença. Contanto que o deixem seguir seu caminho em paz, não discute as pretensões ilusórias de uma sociedade imersa em tantos valores nocivos à sanidade. Esse sonhador caminha à margem, por entre as sombras das árvores e os frágeis raios de sol em um entardecer de outono.
Às vezes o primeiro grupo identifica covardia no segundo. Enquanto, o segundo, por sua vez, identifica no primeiro uma certa desmedida e demasiada ingenuidade, o que conduz a desencontros. Mas isso é às vezes, só às vezes. Porque no final dessas contas, todos os sonhadores caminham em busca das trilhas que conduzem à verdadeira essência das coisas, deslocando-se da poluição das superfícies para o encontro com os tesouros escondidos pela correria desenfreada que a maioria dos habitantes desse mundo assumiram para si.
Fundadora dos sites Vida em Equilíbrio e Demasiado Humano. Graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas. Atualmente é mestranda em Filosofia Moral e Política pela mesma universidade, trabalhando questões sobre o conceito de liberdade com ênfase no idealismo alemão.
Isadora também está presente no Youtube através do seu canal Relatos de Motocicleta.